Desde
que o computador se tornou pessoal e a rede mundial, muito se fala sobre uma
revolução iminente na educação – educação entendida como sistema escolar. O
fato é que já estamos a duas décadas neste processo e o sistema de ensino pouco
se afetou. Mas este baixo impacto da revolução tecnológica no ensino escolar
não passou incólume – a cada dia, mais e mais se fala do fracasso do sistema,
do descrédito da profissão de ensinar, da indisciplina dos estudantes. Os dois
fenômenos – a revolução tecnológica e o fracasso do sistema escolar – estão
ligados: a nova geração tem uma forma de pensar, agir, se comunicar e
relacionar que não encontra ressonância no modelo escolar.
As
crianças e os jovens encontram nas novas tecnologias os recursos necessários
para o processo de aprendizagem. Não se trata de conteúdos, mas sim de estímulo
à curiosidade, de diversão, de oportunidades para que se percebam autores, de
diálogos múltiplos, de desafios constantes, de aventura. É assim que saem da
passividade da sala de aula para o engajamento nas redes sociais.
Crédito olly / Fotolia.com
O
potencial das tecnologias para a inovação na educação está no reconhecimento
desta inversão radical no papel do estudante, de objeto para sujeito da
aprendizagem. Quando a tecnologia entra no sistema de ensino sem isso, torna-se
panaceia, remédio para a cura de todos os males, uma forma de dourar a pílula
amarga da escola: o ambiente onde predomina a hostilidade entre estudantes e
professores, os conteúdos descontextualizados, o ensino burocratizado, o
desânimo generalizado.
A
tecnologia na educação é panaceia quando, ao invés de apostar na revolução
empreendida pela hipermídia, com sua estrutura reticular, transversal, que
favorece a exploração e a curiosidade, reproduz no mundo digital a forma
enciclopédica, com sua coletânea de verbetes e fascículos que se empilham e
acumulam mantendo a estrutura linear das notas, séries, disciplinas e aulas.
A tecnologia na educação é
panaceia quando, ao invés de envolver os jovens em desafios reais como a
colaboração coletiva em larga escala para uma nova descoberta ou para a
disseminação de uma nova atitude, reproduz a artificialidade da sala de aula em
games
A
tecnologia na educação é panaceia quando, ao invés de promover a autoria do
estudante no processo de aprendizagem, reproduz na forma digital a estrutura
das aulas centradas no saber dos professores. Ver uma aula filmada pode ajudar
o aluno a reter conteúdos, superando a relação hostil que marca a sala de aula
real e dando-lhe a oportunidade de pausar e voltar, mas está longe de promover
efetivo aprendizado.
A
tecnologia na educação é panaceia quando, ao invés de envolver os jovens em
desafios reais como a colaboração coletiva em larga escala para uma nova
descoberta ou para a disseminação de uma nova atitude, reproduz a
artificialidade da sala de aula em games onde os riscos e as decisões a serem
tomadas são todos controlados e limitados.
A tecnologia
é inovadora na educação quando potencializa o autoaprendizado e as formas
colaborativas de produção de conhecimento. A tecnologia é pílula dourada quando
usada como ferramenta para reter conteúdos definidos externamente, ou para
reproduzir no ambiente virtual um simulacro do real, assim como se faz em sala
de aula. Nesta medida, quando reduzida a vídeos de aulas ou games de
determinados conteúdos, a tecnologia aplica-se perfeitamente adoçar os amargos
exames baseados em testes de múltipla escolha, por exemplo, tornando menos
desagradável a tarefa de estudar conteúdos que não interessam às crianças e aos
jovens. Mas, a tecnologia será inovadora quando for usada para avaliação da
aprendizagem significativa em outras bases, que favoreçam a criatividade, o
pensamento e a atitude críticos.
Em resumo, a tecnologia é
inovadora na educação quando promove a transformação nas dimensões de tempo,
espaço e relacionamento humano no ambiente educativo.
Em
resumo, a tecnologia é inovadora na educação quando promove a transformação nas
dimensões de tempo, espaço e relacionamento humano no ambiente educativo. Se as
tecnologias da informação são usadas dentro das quatro paredes da sala de aula,
nos horários fracionados das aulas, na abordagem especializada das disciplinas,
sob autoridade do professor e voltadas para avaliações lineares e episódicas,
então elas não aportam inovação e sim, reforço da mesma estrutura desgastada e
distante das novas gerações.
O
potencial revolucionário da tecnologia está dado. Hoje são milhões de pessoas
conectadas no mundo todo, inclusive no Brasil, e novos aplicativos estão
possibilitando cada vez mais o desenvolvimento da criação colaborativa, sob
demanda, online, digital, móvel e inteligente.
As
decisões a serem tomadas na educação devem considerar este fato e suas
decorrências: as desigualdades em termos de autoria e difusão de ideias entre
os que programam e os que não programam; a questão da validação dos conteúdos –
se é um corpo editorial ou a comunidade de usuários, o que implica a necessidade
de criação de uma massa crítica para fontes difusas; o uso da tecnologia para a
promoção em escala da educação de qualidade. Estas são as questões decorrentes
dos aspectos realmente inovadores das tecnologias na educação.
http://porvir.org/porpensar/tecnologias-na-educacao-entre-inovacao-panaceia/20121010